Bombeiros ainda procuram por três desaparecidos em temporal na Ilha Grande. Familiares e amigos das vítimas relembram tragédia na Costa Verde
O temporal que atingiu o litoral da Costa Verde deixou 18 mortos, três ainda desaparecidos e famílias fragilizadas com a perda de parentes e amigos vítimas da tragédia.
A família da dona Maria da Conceição veio da Bahia e chegou a Angra dos Reis em 2009 em busca de uma vida melhor. A filha dela, Sara, de 34 anos, também veio com as filhas: Samara, Rebeca e Laura.
"Ela dizia assim: 'Mãe, antes de eu morrer, eu vou ter a minha casa própria'. E eu falei, 'vai sim, em nome de Jesus você vai ter a sua casa'. A gente tinha acabado de comprar a casa. Juntei tudo o que eu tinha e consegui aquela casa".
Moradores e funcionários da prefeitura após o deslizamento em Angra dos Reis
Reprodução/TV Rio Sul
A casa ficava no bairro Monsuaba, o mais atingido de Angra pelos deslizamentos. Sara e as três filhas estavam no imóvel quando o morro veio abaixo, na madrugada de 2 de abril.
"A minha neta, o vizinho conseguiu tirar ela. Mas ele veio e falou que não conseguiu tirar as outras."
Samara foi levada para o hospital. O pai dela, que ainda mora na Bahia, ficou sabendo pelos colegas de trabalho.
"Fiquei desesperado, as informações estavam desencontradas. Peguei meu carro e vim pra cá, dois dias de estrada. A primeira coisa que eu fiz foi ir pro hospital ver minha filha. Lá eu pude ter contato com ela e ela ficou emocionada em me ver", lembra Robério Silva do Amaral.
Dos 18 mortos no temporal em Paraty e Angra, 11 foram somente no bairro Monsuaba, onde todos se conheciam.
Busca por desaparecidos no deslizamento de terra no bairro Monsuaba, em Angra dos Reis
Divulgação/Defesa Civil
Um outro morador perdeu os pais, a irmã e dois sobrinhos na tragédia.
"A gente não esperava, porque esse pedaço que caiu, pra gente sempre foi seguro. A gente teve o cuidado de deslocar pessoas pra outras casas e exatamente nesse momento na madrugada, quando a gente soube da notícia, todas as casas que a gente pouco esperava serem atingidas, foram atingidas", disse Antônio Cardoso.
Vizinho da família, o Severino chegou a ver quando a lama atingiu a casa da irmã de Antônio.
"Eu peguei a lanterna e vi o morro tremendo. Eu comecei a gritar para todos correrem que o morro ia cair. Quando, de repente, o morro veio abaixo e a avalanche pegou todo mundo. Ela 'tava' na varanda com uma criança no colo e eu vi o momento em que a casa dela vira em cima do pessoal que estava embaixo'", relembra.
Buscas a pai e filhos continua
Arlindo (esquerda), Erick (centro) e Yure (direita): os desaparecidos na Ilha Grande
Arquivo pessoal da família
Na Ilha Grande, as buscas já duram 11 dias. Os bombeiros procuram por pai e filhos que desapareceram na Praia de Itaguaçu.
Arlindo Azevedo Neto, de 80 anos e os filhos, Yure e Erick viviam em uma casa que foi engolida pela avalanche de terra.
"Meu avô chegou lá [na Praia de Itaguaçu] há 46 anos. Era um dos pontos mais seguros da ilha e acabou caindo. Ninguém acredita nisso ainda".
Arlindo e os filhos alugavam casas e quartos para turistas em busca de tranquilidade na Ilha Grande — a praia é isolada e conhecida por ter pouco movimento e o mar calmo.
Com auxílio de cães farejadores, drones, retroescavadeiras e embarcações, os bombeiros se revezam revirando toneladas de pedras e lama que desceram morro abaixo em busca de sinais que indiquem uma direção mais precisa para encontrar os três.
Praia de Itaguaçu, na Ilha Grande
Reprodução/Rede Globo
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