Esse isolamento provocado pelo Convid-19 nos convida a refletirmos sobre 3 aspectos filosóficos e psicanalíticos.
Qual é nossa relação perceptiva? Como percebemos o que está acontecendo.
Qual é nossa relação afetiva? Como sentimos e nos deixamos ser afetados pelo o que está acontecendo.
E qual é a nossa relação racional? Como compreendemos racionalmente nossa relação com essa realidade e, sobretudo, com as pessoas.
Porque só me reconheço sujeito quando existe minha relação com o outro.
E a partir daí temos uma reflexão sobre como estamos agindo com o outro. Como resultado de como o percebemos, como o sentimos e como o compreendemos.
Nessa fase de pandemia que será passageira como todos esperam, temos a grande chance de conhecermos melhor a nós mesmos.
Cada pessoa está percebendo a sua maneira.
Freud, o pai da psicanálise, diferente de outros pensadores que o antecederam no tocante as questões de "não-consciência", do inconsciente, estabeleceu em seu conceito, na relação entre o sujeito e a realidade, o aspecto do desejo.
Assim, em qualquer situação está presente nossa relação entre a realidade e o nosso desejo.
Inevitavelmente, partimos para uma situação em que podemos trazer a consciência aspectos que negamos, como Jung denominou de nossa sombra, ou podemos rejeitar esses aspectos.
Sob o ponto de vista da saúde mental para que possamos manter nossa mente imune ao que está acontecendo de maneira caótica, mundialmente falando, temos que elaborar bem o que desejamos diante da realidade.
Esse desejo está relacionado com a nossa relação com o outro.
O que acontece com um na sociedade está estritamente ligado ao coletivo.
Mas isso é ainda mais impactante nessa pandemia.
Como estou elaborando meu desejo, o que desejo, em relação ao coletivo?
Por mais que percebo o outro e tento compreender a minha maneira, minha relação afetiva faz toda a diferença.
Quando Jesus disse que temos que amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos percebemos que o Filho de Deus como um homem estava experimentando perceber e compreender o outro de maneira afetiva, e indo de encontro a essência primordial do ser humano, onde nasce suas pulsões, seu desejo.
Nessa realidade que estamos inseridos de pandemia o que eu desejo para o outro está inevitavelmente ligado ao que eu desejo para mim mesmo.
Por exemplo, se eu não me precaver posso ser infectado e posso infectar, mas preciso que o outro também tenha a mesma preocupação consigo e comigo. Serve para nossa relação com os de fora e os de casa, porque cada um tem as suas relações sociais.
Ao conversar com um amigo durante uma reunião de trabalho uma frase citada por ele me chamou muita atenção: _"Nunca mais seremos os mesmos depois dessa pandemia".
Isso me fez refletir sobre esse aspecto de como percebemos a nossa realidade. Como estamos sendo afetados por essa realidade. Como estamos racionalmente compreendendo essa realidade.
Voltando ao conceito freudiano do desejo, como compreendemos a realidade sobre o aspecto do que eu desejo, para mim e para o meu próximo.
Essa vai ser a grande chance de compreendermos melhor a nós mesmos e o outro que está ao nosso lado, ou os outros que estavam ao nosso lado antes da quarentena e não tínhamos mais o afeto para compreendê-los, além daqueles que foram separados de nós por causa do isolamento e como isso está nos afetando.
Essa fase serve para que possamos refletir se nossos desejos simplesmente estão levando em consideração a nossa relação com o outro, ou se estão de forma predominante e egocêntrica nossa relação excessivamente conosco.
Essa é a grande chance de compreendemos melhor a nós mesmos sob o aspecto da minha compreensão do outro e, sobretudo, trazendo a consciência o que eu desejo para mim e para o outro.
Anderson Heiz - Jornalista, MBA em Administração e Marketing, Poeta, Psicanalista, Coach e Terapeuta em Florais de Bach